quinta-feira, abril 19, 2007

Porque não têm as Lonely-Made nome próprio associado?


As Lonely-Made têm um espaço físico. Têm um nome, um conceito, uma funcionalidade. Têm vivências e especificidades.
Cada uma é única, não são repetíveis e por isso mesmo são identificáveis. Têm uma morada – virtual - e algumas físicas.
Então porquê estranhar se a elas não está associado um nome, o nome de uma pessoa, uma identificação socialmente estabelecida? Ou um rosto? Ou uma biografia ou currículo pessoal?
As Lonely-Made têm autor, aquele que as conceptualiza e as torna elemento palpável. Mas esse autor não é um nome e sim um conteúdo, o próprio conteúdo que cada Lonely-Made transporta consigo. Portanto, o conduto da sua origem é fruto de um exercício critico, experimental e expressivo oriundo de um percurso individual que, por o ser, é também social (portanto, não deixam de estar abrangidas pelos direitos de autor, os legais e os éticos).
Estranhamente, as sociedades contemporâneas tendem a renunciar voluntariamente à privacidade: “quem está familiarizado com as home pages, ter-se-á dado conta de que a maior parte delas foi construída com o intento único de exibir a sua miserável normalidade, quando não se trata mesmo de anormalidade”, disse Umberto Eco (pág.99).
A verdade porém é que as Lonely-Made cumprem uma função intelectual, função essa que, segundo o mesmo autor, "define-se quando alguém (...), trabalhando com a mente ou pensando com as mãos, contribui criativamente para o saber comum e para o bem colectivo" (pág.69). Significa isto que esse alguém não está permanentemente a exercer uma função intelectual e portanto seria erróneo identificá-la automaticamente ao seu nome próprio. Por outro lado, tal como Foucault já havia afirmado, “autor” é uma função e não um nome ou pessoa. Determinada pessoa cumpre a função de “autor” em determinado momento do seu dia ou da sua vida e por isso o nome próprio não pode nem deve ser confundido com o autor, uma vez que o primeiro comporta em si uma existência para além da autoria.
É esta a razão para que aqui não se publique o nome próprio de quem faz as Lonely-Made, nem tão pouco fotografias pessoais da sua vivência enquanto pessoa...